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Lendas

Conta uma das estórias mitológicas gregas que Aracne, uma tecelã talentosa, teria envaidecido se de seu dom a ponto de considerar se melhor que uma deusa grega. Deve ser Afrodite. Fizeram um desafio entre as duas e a deusa perdeu a disputa. A deusa enfurecida puniu a tecelã diminuindo lhe os membros e fazendo um monte de control C, control V + fotoshop. Resultado a mulher tornou se uma aranha, a primeira de todas. Esta lenda mitológica é, em tese, para explicar o surgimento das aranhas e sua característica peculiar de tecer as teias. Eu não creio que os gregos acreditavam nisso. Penso que era apenas mais uma forma de lembrar a necessidade de valores como a humildade. E lembrar aqui que isso é fundamental pra desenvolver uma série de virtudes é chover no molhado. Mesmo que seja sempre bom relembrar esta virtude rara.
Sabe porque poucas pessoas tem interesse em serem humildes? Porque a humildade é a virtude mais difícil de ser percebida. Todos reparam num bom orador, numa pessoa bonita, em alguém inteligente. Mas quem repara em um humilde? Pode ser confundido com tantas coisas. Uma pessoa sem personalidade, um feio em primeira instância que depois revela se encantador, um pamonha, qualquer coisa. Por isso é duro ser verdadeiramente humilde. Porque nos importamos realmente com o que os outros pensam. Se não nos importássemos nossa vida seria outra. Como seria outra? Porque agiríamos muito diferente. Somos outra pessoa na companhia de alguém. Seja quem for esse alguém. A simples presença muda o contexto da situação.
Isso tem haver com a idéia principal que a parábola grega traz pra mim. Me detive na humildade, mas creio que há mais na estória. Como em outras parábolas.
O que me chama mais a atenção é a necessidade de estórinhas mágicas para dizer ou representar algo. Isso ocorre em todas as eras com todos os povos. Até hoje. E mais, não é efeito coletivo. É individual. Quer ver? Quantas vezes colocamos o peso da culpa em outro, por um acontecimento que julgamos ser nosso fracasso? Culpamos alguém, pois é pesado demais aceitar que um erro nosso inviabilizou um desejo que parecia tão importante. Criamos nossas próprias ilusões de que no passado era melhor. Há quem crê que em seu tempo (desde quando algum tempo foi de alguém?) os políticos eram honestos, todo mundo era fiel em seu relacionamento, as pessoas eram mais humanas (pessoas humanas?) e no seu time de futebol só tinha craque. Invencionice. Era praticamente como é. Esses malabarismos emocionais só servem pra tentarmos encontrar um lugar pra sermos felizes. Nem que seja num passado remoto que jamais voltará.
Então colocamos a felicidade em um lugar longínquo. Dizem que podemos mudar o futuro na nossa vida, mas as pessoas vivem mudando o passado. O passado é contado segundo nossa interpretação, nunca como foi. Os fatos passam pelo emocional antes do registro na memória, causando uma série de impressões que nem sempre (melhor, quase nunca) foram daquele jeito.
Bob Dylan diz que o futuro está no passado. E em parte é verdade. A mente quando insegura busca refúgio no conhecido e nos faz andar em círculos. Repetimos atitudes entre a família, entre um relacionamento amoroso e outro, entre o dia a dia. Por quê? Para que tudo permança na zona conhecida. Fácil. Assim se sabe onde se está pisando.
Criamos assim nossas parábolas. A parábola de que na infância tudo era melhor, que éramos mais amados porque tudo nos era dado nas mãos, não havia compromissos e contas a pagar. Esses que concordam com essas idéias não se recordam de que tinham de pedir permissão pra tudo. Nem a hora de dormir escolhiam. Já imaginou a consciência adulta numa criança? Seria o caos familiar. E os pais seriam dispensáveis, claro.
Então criamos nossa mitologia particular. A infância é o paraíso. Escolhemos deuses nas pretensas celebridades. Endeusamos quem nos tocar um emocional confuso por sentir um pouco de conforto. Pronto. Já é possível ter quase uma religião. Só esquecemos de alguém nisso tudo. Da gente.
Procuramos referência nos outros quando nossa referência deve ser o nosso individual. O mundo não precisa de outra Lady Gaga. Aliás, nem da primeira. O mundo, a vida e quem estiver por perto precisam de  ti como és.  Passamos a vida tentando atender as expectativas dos outros pra satisfaze los. E se nos amam  só nos querem ver felizes. Então basta sermos felizes pra atender esta expectativa. É só ser você! Esqueça a Lady Gaga.
Rolamos entre uma emoção e outra para encontrar um alívio. Um resguardo para a autoestima, um motivo para ela. Mas o que é necessário está ali. Ali dentro. Ser o que se é.
Criamos tantos mistérios em torno das coisas que não sabemos onde está o chão, aí fica mais complicado de encontrar o rumo.
Lembra da canção que diz que é bobeira não viver a realidade? Aí está a diferença entre viver no mundo mental das nossas parábolas, contos e bobeiras e viver em paz. Sim, porque ser quem se é da paz. Se alguém vive de acordo consigo mesmo, se segue seus princípios estará em paz. Se crê no que vive e mais, vive no que crê, será feliz.
Emmanuel diz que a felicidade repousa numa consciência tranqüila e num coração pacificado. Concordo. Mas haverá forma de consciência e coração equilibrarem se vivendo no dilema entre ilusão ou o que eu sou?
Não são necessárias máscaras, ilusões ou disfarces. Estes só trarão o falso. E o falso não pode ser veículo da felicidade, porque ela é real.
Desde o berço vivemos com meias palavras pra entendermos o significado das coisas por tabela. Na maioria das vezes fingimos que entendemos. E depois fingimos que estamos bem. Que vivemos na plenitude da felicidade.
André Luiz recomenda: abandone a ilusão antes que a ilusão te abandone. Para isso precisa coragem. E só teremos a vida verdadeira quando a ilusão for deixada de lado. Quando as estórias para os bois e a consciência dormirem forem passadas a limpo, aí sim teremos a felicidade palpável. E onde está a felicidade palpável? No futuro que está no passado, segundo Bob Dylan, no fim do arco íris ou num sonho louco? No agora! Só o agora é real. Só nele a vida faz seu lugar.
Então teça suas teias no agora. Realize no agora, mas mais que isso, realize se. E  todos que te amam serão felizes por ti. Seja feliz por ti e eles serão atendidos em suas expectativas. Então todos serão felizes.
Ah! E humildade.

2 comentários:

  1. Oii, Rodrigo. Gostei do post. Ah alguns dias vi um capitulo de uma série,..que refletia mais ou menos sobre essa idéia final.., porque muitas vezes, em nossa vida fazemos muitos planejamentos, planos, rotas e etc..planejamos até nossa felicidade, depois que eu me formar, depois que eu ter uma casa, depois que eu me casar, ou quando me separar, quando estiver mais magra, quando ter um carro.,.E esqueçemos que somos simples mortais, e que não temos todo tempo do mundo. Como cora carolina bem escreveu..
    (...) E isso não é coisa de outro mundo,
    é o que dá sentido à vida.
    É o que faz com que ela
    não seja curta,nem longa demais
    Mas que seja intensa
    Verdadeira, pura ...
    Enquanto durar.

    Beijo

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  2. A poesia prevalece...
    E pouco a pouco, nos torna o que somos, influenciados os não, por estes seres, que nada fazem e tudo sabem; tudo sabem e nada fazem; dizem tudo, nada dizem, mas nos fazem entender quem somos. E pouco a pouco, tudo se encaixa, tudo se ajeita, mesmo que de uma forma q não queremos ou não seja a ideal, mas ao menos nos deixa confortável por alguns instantes, até que tudo comece mais uma vez... O CAOS... A VIDA...

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