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Algo de nós que fica.


“O que traz consigo?
Com quem vai deixar?”
- Onde você vai estar -


Há quem viva em buscas permanentes. Em constantes perseguições e peregrinações atrás de alguma coisa. São formas de coleções. Colecionar coisas, adquirir. Aquisições preciosas para sua auto-afirmação, auto ilusão ou uma tentativa desesperada de sair ganhando de algum jeito freqüentando um lugar, convivendo com alguém. Seja o que for, é só mais um algo.
Sem que se faça notar a areia muda de lugar na ampulheta  em escala cósmica e os hábitos constroem destinos destituídos de uma conquista maior. Uma conquista satisfatória. O novo não supre a necessidade. Nem um lampejo de paz à alma encarcerada na masmorra da repetição insciente e inconseqüente.
Certa feita  percebi que normalmente é confundida uma canção reflexiva com uma canção triste. Dizem “esta me deixa muito pra baixo”. É natural. A introspecção é um espelho emocional que não permite  mediadores. E na fuga de si mesmo, embalos e balelas são cúmplices de uma morbidade intelectual  desajustada da busca de alegria. Alegria esta confundida com qualquer coisa que não faça pensar.
A melhor forma de termos algo bom para nos lembrar é a satisfação de saber que deixamos alguém, ou alguma situação, melhor do que antes da nossa chegada. Basta enumerar às ocasiões em que fizeram isso por nós. Esta sensação de utilidade preenche. Esta sensação, enfim, satisfaz. A busca perde a importância diante da doação. A doação de si, de sua paz, de sua presença, carinho, dedicação e blablablá. Você já sabe disso.
Ao nos vigiarmos para saber o que estamos levando aos outros teremos de buscar algo novo e externo. Provavelmente acima de nós mesmos. E será uma conquista maior. Que nos fará maiores. Aí sim, uma vitória que satisfaz.

O que a vida faz

Uma noite dessas saí sem o celular. Cheguei antes em um compromisso e ia ligar o mp3 no celular. Ele não estava lá.
Tive de pensar em outra opção. Fui ver o mar, havia tempo que não fazia isso. E me fui!
Ao chegar lá vi que a lua estava especialmente linda! Não é dificil imaginar. Aquele luar sobre as ondas. A brisa na noite quente. O mar quase negro e a lua muito prateada. Que imagem! Que foto! Grande ideia! Mas não levei o celular. E ficou fotografado na retina. Em um lugar sem digitalização nenhuma. Mas com muitos arquivos...
Não tirei nada dali, mas ganhei muito. Sai incompleto de arquivos, mas numa plenitude sedenta por mais lua, por mais mar. E eu não precisava de mais nada.
Como conversado com a Angela, ou Anja Psi no facebook, a fotografia ficou eterna na retina, na memória. Ela estava lendo um livro em que isso era mencionado e eu lhe falei que Lindolf Bell também traz esta ideia. O Mundo das Ideias se apresenta em diversas formas para espargir suas linhas e tramas de raciocíneo em vários lugares. A cada um chega de um jeito ou seriam coisas diferentes que entendemos da mesma forma?
Outra sensação que tive ao sair sem o telefone é que o acaso ganha mais possibilidades. Se não marcar de encontrar alguém, é uma surpresa dar de cara com um amigo na esquina. Mas eu não encontrei. E foi legal do mesmo modo.
Aí me ocorre a diferença do que a vida faz e o que a gente faz. O que a vida faz é muito maior que o nosso alcance. O que fazemos é sempre menor que nós mesmos. As vezes plantamos a semente. Ela cresce e se torna maior do que quem a plantou. Mas foi a vida que lhe fez crescer. Semear é a atitude que a dimensão do ser humano permite. Não lhe é possível fazer mais do que preservar o que foi semeado. Para continuar existindo a possibilidade do desenvolvimento da semente a vida tem que acontecer em uma combinação de fatos. Isso faz da semente sempre menor que o fruto. Por isso se deve semear.
Semear e preservar. E se for por vontade vontade divina, a vida desenvolverá.


Com ou sem o celular.